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São Paulo, São Paulo, Brazil
Doutorando e Mestre em Ciências Políticas pelo Programa de estudos Pós Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP e especialista em marketing (ESPM). Autor de Política e Segurança Pública: uma vontade de sujeição (Rio de Janeiro: Contraponto, 2009).

domingo, 16 de maio de 2010

demografia e política

Recentemente concluí a leitura de Freakeconomics. Sim, um livro excêntrico de um economista do MIT, desses bem premiados. Ora, o autor inicia o livro falando de uma curiosa história que pode emergir dos dados. Aborda sobretudo, uma maneira de interpretar a realidade através da economia. O tema unificador, seria o ceticismo em relação à abordagem convencional da criminologia. Aborda, inclusive alguns embustes da política como o caso de Atlanta nos EUA; que desde que se candidatou para sediar as olimpíadas tem registrado queda nos índices de criminalidade. Tendo sumido mais de 22 mil registros policiais só em 2002. Na conclusão do autor, os comportamentos podem ser alterados por incentivos positivos ou negativos. E é em torno disso que os autores tentam dar uma explicação nova para a criminalidade nos EUA na década de 1990. Nos 15 anos anteriores, registrava-se um aumento de 80% na criminalidade, e este era o foco de todos os telejornais. E tudo que os especialistas pronunciavam era que o futuro veria um aumento exponencial, um 'banho de sangue'. Bom, a história das décadas seguintes foi bem diferente. Então os autores se perguntam onde foram parar todos aqueles números? As explicações mais recorrentes na década de 90, dada pelos mesmos ou outros especialistas incluíam: as estratégias policiais inovadoras (e nós sabemos o quanto elas serviram de modelos e foram exportadas para tantos outros pontos das américas); crescente confiança nas prisões ( e nós sabemos o quanto se encarcera nos EUA, em 2000 havia mais de 2 ilhões de presos, 4 vezes mais que em 1972); mudanças no mercado de drogas (sabemos o quanto as mortes violentas, nesse sentido, envolvem traficantes e disputa por posses de pontos); envelhecimento da população; leis mais rígidas de controle de armas (2/3 dos homicídios nos EUA envolvem armas de fogo, e há mais armas que habitantes, mas a lógica industrial é produzir mais); melhorias na situação econômica do país e aumento do número de policiais nas ruas. Os autores afirmam que desta lista, apenas três fatores realmente contribuíram para a queda da criminalidade, os outros não passam de autopromoção de especialistas ou ilusão. Por exemplo, os fatores crescimento econômico e queda do desemprego; ora, os autores concluem que esses fatores só seriam significativos para a queda da criminalidade em relação aos crimes de motivação financeira. Tendo o desemprego registrado uma queda de 2% e o registro de crimes não violentos 40%. Para os autores, de fato,o encarceramento responde por mais ou menos 1/3 da queda dos índices de criminalidade. Bom, como esses dois milhões de indivíduos chegariam às prisões senão por meios legais, restando a influência das novas estratégias policiais e o aumento do policiamento em cerca de 14% na década de 1990. Especifica-se bem que o índice da criminalidade caía em todos os EUA, não se tratava de um mérito de NY, por exemplo. A que caberia além desses 3 fatores esta influência? No que está a conclusão dos autores: a uma mudança demográfica imprevista como resultado da legalização do aborto estendida para todo o país em 1973 pela suprema corte. No que concluem que existe uma alta correlação matemática entre aborto e indices de criminalidade. Segundo os autores, "desde 1985 os estados com alto índices de abortos tiveram uma queda aproximadamente 80% maior do que os estados com índeces baixos de aborto." Esta, me parece, continua sendo uma velha tentativa de se equacionar a demografia da pobreza e criminalidade. O que se pode deduzir politicamente? Os problemas sociais mais prementes não podem ser entendidos senão pela forma de como combatê-los, pelo padrão de um exemplo, de uma matemática para economia e um instumental (incentivos)para política. Será que isso delimita tudo que podemos entender da experiência social? Não. Um grandioso não. Por isso a necessidade de se estudar também como se forma esta economia do poder muito distinta, o sistema de segurança da população, do problema aberto pela demografia ao problema da tautologia da interpretação dominante.

terça-feira, 4 de maio de 2010

bioeconomia = biopolítica

A prova de que não há a possibilidade de entender a biopolítica fora do contexto da economia está numa tímida e curta referência de Foucault a Ricardo, Malthus e Marx. O problema da biopolítica, seu corte e seu desbloqueador, tem um lugar central em todo o pensamento da economia política: a população, a demografia. A partir de 1809 Ricardo estabeleceu com Malthus laços de amizade que não influenciaram em seus desacordos teóricos. Para Ricardo, o que faz com que a economia seja possível e necessária é uma perpétua e fundamental situação de escassez, frente a uma natureza por si mesma inerte e estéril, salvo em uma minúscula parte, o homem arrisca a vida. A economia, portanto, encontra seu princípio pelo lado dessa região perigosa onde a vida enfrenta a morte. E Malthus, na mesma época escreverá sobre as proporcionalidades logarítimas entre a progressão geométrica das populações e aritmética da subsitência. “Malthus , pensou essencialmente o problema da população como um problema de bioeconomia, enquanto que Marx tentou erradicar a noção de população, mas para reencontra-la em uma forma já não bioeconomica e sim histórico política de classe, enfrentamento de classe” (Segurança, Território e População, 105). Para Malthus, a sociedade se consome e deve consumir aquele que não tem para viver nem trabalho nem sustento e sua infelicidade deve recair apenas sobre ele mesmo. A economia política atribuiu aos 'incentivos' a pedra de toque da vida moderna. Entendê-los virou a chave para solucionar a relação risco/oportunidade ou, inicialmente, como explicitava Adam Smith em 1759, em Teoria dos Sentimentos Morais, liberdade individual/normas sociais. Estas construções teóricas foram fundamentais para caracterização histórica da sociedade civil, dos interesses de sociedade, demandas de sociedade. Hoje, vejo que o estudo da especialização do 'interesse', do 'incentivo' e da 'oportunidade', como categorias da economia são fundamentais para entender a garantia da sociedade frente aos fenômenos da escassez, à miséria e seus escopos, como a doença, o crime e a guerra. Frente a estes fenômenos a economia política se tornou fundamental tanto quanto a segurança. Teria a economia política lançado os métodos para o sistema de segurança?!
 
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