Quem sou eu

Minha foto
São Paulo, São Paulo, Brazil
Doutorando e Mestre em Ciências Políticas pelo Programa de estudos Pós Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP e especialista em marketing (ESPM). Autor de Política e Segurança Pública: uma vontade de sujeição (Rio de Janeiro: Contraponto, 2009).

sábado, 3 de abril de 2010

segurança como conceito.

Em Política e segurança pública: uma vontade de sujeição (Contraponto, 2009) analisei a figura da vítima potencial sob pano de fundo da “novidade em segurança pública” caracterizada pelos documentos que organizam a política brasileira de segurança em 2000, 2003 e 2007 com seus estudos da relação entre a participação da sociedade civil e polícia. Estes documentos sobre segurança realmente representam o conjunto temático de nossa década. Minha principal pergunta era: quais os efeitos desse conjunto temático e da aliança entre sociedade e polícia? Quais os efeitos de uma prática preventiva que recai sobre os laços da opinião e participação?
Então analisei as relações intrínsecas entre a manutenção simbólica da ameaça regular e os processos de vitimização/risco sob as perspectivas neoliberais de análise de comportamento tendo como foco a minimização de riscos ou simplesmente a comparação teórico/prática entre efeitos e custos do crime e da repressão/prevenção. Não é assim que as metodologias de segurança são construídas hoje? Vejamos alguns exemplos atuais:

1) A partir de abril de 2010, segundo anúncio do Departamento de Segurança, os Estados Unidos endurecerá sua segurança aérea, qualquer passageiro poderá ser interrogado antes de viajar, sobretudo, aqueles com características fenotípicas aproximadas a de suspeitos terroristas. Desde dezembro quando um passageiro nigeriano tentou acionar explosivos dentro de um avião em um vôo de Amsterdã a Detroit anunciou-se que passageiros de 14 países, seriam exclusivamente vigiados e investigados, dificultando a entrada nos EUA. Segundo os estudos do departamento de segurança, Cuba, Irã, Sudão, Síria , Afeganistão, Argélia, Iraque, Líbano, Líbia, Nigéria, Paquistão, Arábia Saudita, Somália e Yemem, abrigam ou não tomam medidas exclusivas para combater terroristas, daí a coincidência territorial/populacional.

Segundo a última declaração do departamento de segurança estadunidense, qualquer um, de qualquer país pode ser controlado como um suspeito segundo padrões de suas viagens transformados em filtros de segurança, como sobrenome, tipos de bilhetes, características físicas e todo resto de escolhas relacionadas às compras de serviços aéreos, periodicidade das viagens, ou determinantes na estadia em países visitados.

2) As polícias pacificadoras são anunciadas como um novo modelo da secretaria
estadual de Segurança do Rio de Janeiro. Deverão ocupar aproximadamente 37 favelas, selecionadas segundo índices de homicídio, listas com supostos suspeitos de comandar o tráfico, estrutura das barricadas instaladas para impedir a entrada da polícia, guerras internas de facções – do sistema penitenciário às favelas —, bocas de fumos, territórios controlados por milicianos e com estratégias de conflitos mais intensas, equipamentos avançados em comunicação, concentração de armas, visibilidade como poderes paralelos, barganhas políticas e códigos de condutas complexos semi institucionalizados impostos aos moradores. Tarso Genro afirmou que 50 comunidades estarão pacificadas até 2016, ano das olimpíadas no Rio de Janeiro, e que se caracterizarão como mini vilas olímpicas. Onde serão as UPPs, sejam 37 ou 50, não há qualquer menção. Até abril de 2010, cinco favelas são consideradas modelos deste novo policiamento: Dona Marta, Batan, Cidade de Deus, Chapéu Mangueira e Babilônia.

As metrópoles brasileiras registram diferenças quanto à variedade do mercado de drogas ilícitas. Algumas análises sugerem que este mercado pode ser caracterizado pela sua concentração ou fragmentação, do vetor concorrência ao monopólio. Ou seja, funciona como qualquer outro mercado pela lógica do grau de controle exercido para deter porções significativas ou dominantes do mercado. Este mercado vai de um modelo competitivo exercido por microtraficantes (revendedores individuais autônomos) em áreas urbanizadas como a cracolândia de São Paulo ou bocas independentes em uma mesma favela/periferia. Estes mercados fragmentados operam com margens de lucro muito baixas, tornando-os incapazes de investir em estoque, controle de mercado, controle de distribuição, controle de armamento, funcionários especializados (vapor, olheiro, gerente, vigia, etc), estorções (mesmo que da Força Nacional de Segurança), ajuda social e ordem nas comunidades, com exibição de força muito limitada, etc. Estes são incapazes de expandir e ganhar a fatia dominada por um concorrente e de lidar com visibilidade deste fato. Um outro modelo é formado por empresários do tráfico que dominam uma ampla fatia do mercado e desfrutam de um monopólio local com perspectiva de expansão e/ou estabilidade. A expressão “está tudo dominado”, muito comum nos morros cariocas, caracteriza esta situação de mercado e o posicionamento das empresas.

Quanto mais produzem, menor o custo marginal por unidade produzida, maior abrangência da margem de negociação com os fornecedores, maior venda e, porventura, proteção dos consumidores e maior força de segurança. Isso gera capital para investir em expansão operacional e visibilidade. É em torno do comportamento de mercado — muitas vezes encoberto pelo termo “crime organizado” — que o negócio do tráfico torna-se alvo da polícia, mesmo quando esta se codifica em milícia em torno do mercado da segurança da comunidade contra o comércio das drogas. Tendo como foco estes mercados estáveis, de baixa variação ou de alta fragmentação, de alto nível organizacional e aglutinador operacional das penitenciárias ou não, a ação da polícia tem sido planejada.

Com estes dois exemplos bastante simples, podemos entender que as metodologias neoliberais de segurança correlacionam uma coincidência populacional/territorial, forma do mercado e risco (comportamento). A esta equação ou correlação atribuímos hoje o nome de segurança, mesmo que ela seja fragmentada sob diversos dispositivos que dimensionam o grau da minimização ou recidivo dos riscos. Não se trata de suprimir ou erradicar os riscos, mas de comparar os efeitos de um dispositivo. Nossa época teria razão orgulhosa de uma segurança completa.

O conceito, a razão, a dimensão simbólica da segurança moderna é uma novidade. Como ela se constitui, qual a sua história cheia de precariedades teóricas e práticas é o meu problema atual. Precisamos perguntar: De onde o conceito de segurança tira uma força tão grande em nosso pensamento político?

4 comentários:

  1. Edson Lopes,

    Meu nome é Marco Magri, faço parte de um coletivo antiproibicionista chamado Desentorpecendo A Razão. Gostaria de saber se pode disponibilizar sua dissetação, assim como o contato para venda do livro (caso haja essa possibilidade). Grato.

    ResponderExcluir
  2. Olá Marco Magri. Obrigado pela visita ao blog. A tese está disponibilizada em pdf no site universia. Você pode baixá-la ao se cadastrar. http://biblioteca.universia.net/ficha.do?id=30896167
    O livro, está sendo vendido pela Contraponto, é bem distribuído nas livrarias de São Paulo e Rio de Janeiro ou pode ser comprado pelo site das livrarias. Segue o endereço da editora, que aliás, tem outros títulos muito interessantes: http://www.contrapontoeditora.com.br/home/index.php
    Vou acompanhar seu blogue. Abraço

    ResponderExcluir
  3. Olá,

    Acredito que a tese de segurança em detrimento da privacidade está se naturalizando a cada dia que passa. O que era antes uma defesa de governo e da polícia, agora é defendida pela própria população: Vigilância.

    Tenho um blog que também aborda assuntos parecidos com o que vc pesquisa, A Era do Panóptico:

    http://aeradopanoptico.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  4. Olá Carlos,

    Obrigado pela visita ao blog. Você tem toda razão, há um elemento muito interessante para ser analisado que é essa 'réplica', a vontade de vigilância. Foi por isso que atribuí ao título de minha dissertação: "uma vontade de sujeição". Um dos elementos que passa a fazer parte da política e dos atos de governo desde o século XIX é o interesse, a naturalização do interesse, as especulações em torno do interesse, sobretudo o interesse de população. Certamente trarei isso em um novo post. Obrigado pela recomendação do blog.

    ResponderExcluir

 
UA-15686860-1